31 de agosto de 2011

O sabor do Zen

Minagawa Shunzaemon, célebre poeta muito apegado à rima e adepto do zen, ouviu falar num famoso mestre zen, Ikkyu, chefe do templo de Daitoku-ji, situado na região dos campos violeta. Desejando tornar-se seu discípulo, foi visitá-lo. À entrada do templo, entabularam o diálogo.
Ikkyu perguntou:
- Quem és tu?
- Um budista – respondeu Minagawa
- De onde vens?
- Da vossa província…
- Ah!… E que tem acontecido ali nos últimos dias?
- Os corvos crocitam, os pardais chilream.
- E onde crês estar agora?
- Nos campos violeta.
- Por quê?
- As flores, essas glórias da manhã… o áster, o crisântemo, o açafrão…
- E quando murcham?
- É Myiagino (campo decantado pela beleza das flores de outono)
- Que acontece nesses campos?
- Ali flui o rio, varrido pelo vento.

Estupefato ao ouvir tais palavras, que tinham o sabor do zen, Ikkyu levou-o para seu quarto e ofereceu-lhe chá. Em seguida compôs, de improviso, os seguintes versos:
” Um prato delicado eu quisera te dar, Mas ai de mim, o zen nada pode ofertar…”


Respondeu o visitante:
O espírito que só pode oferecer-me o nada
é o vazio original
Iguaria delicada entre as mais

Profundamente comovido, o mestre concluiu:
- Meu filho, aprendeste muito !!!

O verdadeiro tesouro

Bodhidharma, nascido em Sri Lanka uns 500 anos depois de Jesus Cristo, era o 3º filho do rei dessa região indiana. Aos 8 anos de idade podia-se afirmar que ele já tinha o satori. Eis aqui por quê:

Um dia, seu mestre, um monge muito ilustre chamado Hannya Tara, recebeu do rei uma pedra de valor inestimável. 

O mestre perguntou aos 3 príncipes:
“Conheceis alguma coisa mais valiosa do que esta pedra em nosso mundo?”

O príncipe mais velho respondeu: 
“Somente vós, mestre, recebeste esse presente; estais de posse do mais belo tesouro da terra.”

O 2º príncipe respondeu igualmente: 
”Ainda que busquemos toda a nossa vida, não poderemos encontrar em nosso mundo uma pedra que se lhe compare.”

Bodhidharma, que tinha então 8 anos, disse por sua vez: 
“É um verdadeiro tesouro, um tesouro inestimável, mas é um tesouro deste mundo, um tesouro vulgar. Por isso mesmo penso que a nossa verdadeira sabedoria tem grande valor. Compreender o valor deste tesouro é igualmente uma forma de sabedoria; não obstante, tal sabedoria carece de profundidade; compreender que o diamante é uma pedra preciosíssima, de valor muito maior que um caco de vidro, é sabedoria social.”

E Bodhidharma rematou:
A verdadeira sabedoria consiste em compreender-nos a nós mesmos.”

30 de agosto de 2011

Seu café da manhã está esfriando


Estudante Zen: "Então, Mestre, a alma é ou não imortal? Sobrevivemos à morte de nosso corpo ou nos aniquilamos? Nós realmente reencarnamos? Nossa alma se divide em partes componentes que se reciclam, ou entramos no corpo de um organismo biológico como uma única unidade? E retemos ou não nossa memória? Ou a doutrina da reencarnação é falsa? Talvez a noção da sobrevivência cristã seja mais correta? Se for assim, temos ressurreição do corpo ou nossa alma entra num reino puramente platônico e espiritual?"
Mestre: "Seu café da manhã está esfriando".

Esta é a maneira do Zen: trazê-lo para o aqui e agora. O café da manhã é muito mais importante do que qualquer paraíso, do que qualquer conceito de Deus, do que qualquer teoria da reencarnação, da alma, do renascimento e de toda essa tolice. Porque o café da manhã está aqui e agora.

Para o Zen, o imediato é o final, e o iminente é o transcendental. Este momento é a eternidade... você precisa estar desperto para este momento.

Assim, o Zen não é um ensinamento, mas uma estratégia para perturbar sua mente sonhadora e de alguma forma criar um tal estado que você fique alarmado, que você tenha que se levantar e ver, uma estratégia para criar tal tensão à sua volta a ponto de você não poder permanecer dormindo confortavelmente.

E esta é a beleza do Zen e a revolução que ele traz ao mundo. O Zen tenta acordá-lo; ele de modo nenhum tem consolos. E ele não fala sobre grandes coisas. Não que estas grandes coisas não existam, mas falar delas não vai ajudar.

28 de agosto de 2011

Busca



"O macaco busca a lua na água
Até que a morte o encontre, não desistirá
Se apenas abandonasse o galho e sumisse no lago profundo
O mundo inteiro brilharia com surpreendente claridade"

fonte : http://opicodamontanha.blogspot.com/

26 de agosto de 2011

Uma xícara de chá

O mestre japonês Nan-in recebeu um professor de filosofia.
Servindo-lhe o chá, Nan-in encheu a xícara do visitante,
e continuou vertendo.
O professor assistiu ao transbordamento até não conseguir mais
conter-se:
"Pare! A xícara está cheia, nada mais pode entrar."
Nan-in disse:
"Assim como esta xícara, você está cheio de suas próprias opiniões
e especulações. Como posso mostrar-lhe o zen sem que
você esvazie a sua xícara primeiro?".


11 de agosto de 2011


Um descanso no caminho de volta
Da  Estrada Esburacada
Para a Estrada Nunca-Esburacada;
Se chover, deixe que chova;
Se ventar, deixe que vente.

Meu eu de há muito tempo,
Em natureza não-existente;
Nunhum lugar para ir quando morto,
Nada absolutamente.

Quando perguntavam, ele respondia;
Nenhuma pergunta, nenhuma resposta;
Então o Mestre Daruma
Deve ter tido
Nada em sua mente.

Nossa mente-
Sem fim,
Sem princípio,
Embora tenha nascido, embora morra...
A essência do vazio!

Todos os pecados cometidos
Nos Três Mundos
Se dissolverão e desaparecerão
Comigo.


Mestre Zen Ikkyu

Significado:
´´A Estrada Esburacada´´ significa este mundo, o mundo dos desejos. Através dos desejos estamos perdendo nossa energia, desperdiçando nosso ser e desaparecendo. Toda criança nasce como um imperador, e logo o reino, a pureza e a inocência são perdidos. 
´´Estrada nunca-Esburacada´´, o mundo antes de nós, a origem, o estado da não feição.
O objetivo de todas as meditações é perceber isso novamente, dentre todo este barulho da Estrada Esburacada, dentre todas essas pessoas que estão correndo atrás de pensamentos...reconhecer e perceber a face original quando você nçao era um corpo nem uma mente, mas somente uma consciência pura, uma testemunha. Se você puder permanecer neste estado, suas energias de vida não se dispersarão.
Quando a pessoa volta ao estado original, ela presencia tudo que a vida pode dar.

Meu eu de há muito tempo,
Em natureza não-existente;
Nunhum lugar para ir quando morto,
Nada absolutamente.

Antes do nascimento, éramos não-existentes, e assim, de novo, seremos após a morte. Nenhum eu existia e nenhum eu existirá após a morte.
Esta é uma das meditaçãoes fundamentais. Se isso puder se assentar, que ´´eu não sou´´, então de repente o mundo da estrada esburacada desaparece. Quando não existe o eu(ego), a ambição é irrelevante. Se houver um eu, então a ambição é relevante.

Quando perguntavam, ele respondia;
Nenhuma pergunta, nenhuma resposta;
Então o Mestre Daruma
Deve ter tido
Nada em sua mente.

A mente, em sua pureza, é apenas um espelho, um espelho vazio; ela nada contém. 
Na meditação, a mente se torna mais e mais como um espelho. Lentamente toda a poeira dos pensamentos desaparece, todas as nuvens de desejo desaparecem... e então não sobra nada. A mente, em sua pureza, é apenas um espelho, imperturbado pela paixão e desanuviado pelos pensamentos; tudo está como é.
A pessoa iluminada não tem respostas prontas, não tem pensamento pronto para atirar em nossa cabeça. Ela responde, e suas totalidades são suas respostas. Ela é um espelho. O discíplo vem a frente do Mestre e ele responde ás necessidades do discíplo. 
Daruma- o nome japônes de Bodhidharma - respondia quando questionado, comia quando estava com fome, dormia quando estava cansado. A verdadeira vida de um sábio, nada em mente: nirvana.


Nossa mente-
Sem fim,
Sem princípio,
Embora tenha nascido, embora morra...
A essência do vazio!

A mente da Estrada Nunca-Esburacada é eterna.
A mente da Estrada Esburacada é passageira, a mente pequena é apenas um reflexo, e reflexos nascem e morrem. Está é a essência do vazio.

Todos os pecados cometidos
Nos Três Mundos
Se dissolverão e desaparecerão
Comigo.

Os Três Mundos são os mundos do passado, do presente e do futuro: O mundo dos tempos.









6 de agosto de 2011

Agir de acordo com a verdadeira natureza.


"Quando andar, apenas ande,
Quando sentar, apenas sente;
Acima de tudo, não vacile."

Mestre Zen Umon



Como Umon tão claramente demostrou, a essência do Zen é transmitida mais diretamente através da linguagem da experiência diária e não com frases acadêmicas ou teológicas.
O objetivo pragmático do Zen é levar o praticante a uma experiência direta da vida em si. Eliminar todas as distinções dualísticas como eu/você, verdadeiro/falso, sujeito/objeto, a fim de chegar a uma consciência da vida não condicionada por palavras e conceitos.


Palavras de mestres

O Zenji Eihei Dogen (1200-1235), fundador do Soto Zen Japonês, disse:

Aprender o caminho de buda é aprender sobre si mesmo. Aprender sobre si mesmo é esquecer-se de si mesmo, é estar ilumindado por tudo, no mundo. Estar iluminado por tudo é deixar cair o próprio corpo e a própria mente.

É este deixar cair o corpo e a mente que leva a compreensão de que não existe uma entidade fixa chamada comumente de si mesmo. Só existe o espaço ilimitado, infinito, desobstruido. Nas palavras do Sensei Genpo, um mestre Zen dos nossos dias:

Este espaço, também chamado de "vazio" ou Shunyata, não é um mero vácuo, mas é real, pleno e existente. É a fonte da qual todas as coisas emanam e para a qual retornam. Não pode ser visto, tocado ou conhecido e, no entanto, existe como "Eu" e está sendo livremente usado por cada um de nós, a cada momento das 24 horas do dia. Não temos contornos, nem tamanho, nem cor, nem forma e, entretanto, tudo que vemos, ouvimos e tocamos é "ele".
Está além do nosso conhecimento intelectual e nunca será realizado pela mente racional. Em outras palavras, está absolutamente fora do nosso alcance. Quando somos subitamente acordados e compreendemos claramente que não existem nem nunca existiram barreiras, compreendemos que somos todos uma coisa só: montanhas, lua, estrelas, universo, somos todos o si mesmo.
Não mais existe uma divisão ou barreira entre o si mesmo e os outros, não mais quaisquer sentimentos de alienação, medo, ciúme ou ódio pelos outros, pois já se sabe e está comprovada a evidente realidade de que não existe nada separado do si mesmoe, portanto, nada a temer. Esta compreensão naturalmente resulta na "verdadeira compaixão". As pessoas e coisas não são mais vistas como separadas, mas como o próprio corpo.



2 de agosto de 2011

Jûgyû-no-zu As Dez Figuras do Apascentar do Boi

Entre as várias formulações dos níveis de realização do Zen, nenhuma é mais amplamente conhecida do as Figuras do Apascentar do Boi, uma seqüência de dez ilustrações com comentários em prosa e verso. É provavelmente por causa da natureza sagrada do boi na antiga Índia que esse animal veio a ser usado como símbolo da natureza primária do homem, ou natureza búddhica.

Os desenhos originais e o comentário que os acompanha são atribuídos a Kakuan Shien (Kuo-an Shih-juan), um mestre Zen chinês do século XII, mas ele não foi o primeiro a ilustrar por meio de figuras as sucessivas etapas da realização Zen. Existem versões mais primitivas da quinta e oitava figuras, nas quais o boi branqueia progressivamente e o último desenho é um círculo. Isso deixa subentendido que a percepção da unidade (isto é, o apagamento de qualquer concepção de si e do outro) era a meta final do Zen. Kakuan porém, julgando que isso estava incompleto, acrescentou mais duas figuras além do círculo, para tornar claro que o homem do Zen de mias elevado desenvolvimento espiritual vive no mundo secular de forma e diversidade e se une com a máxima liberdade aos homens comuns, inspirando-os, pela sua compaixão e irradiação, a andar pelo caminho do buddha. Essa versão foi a mais largamente aceita no Japão e se revelou no decorrer dos anos como uma fonte de instrução e inesgotável inspiração para os estudantes Zen.



1. Procurando o boi

O boi nunca se extraviou realmente, então por que procurá-lo? Tendo dado as costas à sua verdadeira natureza, o homem não pode vê-lo. Por causa de sua corrupção, perdeu de vista o boi. Repentinamente, defronta-se com um labirinto de caminhos cruzados. A ambição de ganhar terreno e o pavor da perda surgem como chamas extintas; idéias de certo e errado projetam-se como adagas.
Desolado através das florestas e aterrorizado nas selvas, ele procura um boi que não encontra.
Acima e abaixo, rios escuros, sem nome espraiados;
Em matas espessas ele percorre muitas trilhas.
Cansado até os ossos, com o coração pesado, continua a buscar algo que não pode encontrar.
Ao entardecer, escuta cigarras gorjeando nas árvores.



2. Encontrando os rastros

Através dos sutras e dos ensinamentos, ele distingue os rastros do boi. Foi informado que, assim como vasos de ouro de diferentes feitios são basicamente do mesmo ouro, também cada e toda coisa é uma manifestação do si. É, porém, incapaz de distinguir o bem do mal, a verdade da mentira. Não passou realmente pelo portão, mas tenta ver os rastros do boi.
Viu pegadas sem número
Na floresta e à margem das águas.
Em que distâncias vê ele a relva pisada?
Mesmo as gargantas mais profundas das mais altas montanhas
Não podem esconder o focinh
o desse boi que toca diretamente o céu.



3. Primeiro vislumbre do boi

Se ele apenas escutar atentamente os sons cotidianos, chegará à compreensão e no mesmo instante verá a verdadeira fonte. Os seis sentidos não são diferentes dessa verdadeira fonte. Em qualquer atividade a fonte está manifestamente presente. É algo análogo ao salto na água ou à liga na tinta. Quando a visão interior está corretamente focalizada, chega-se à compreensão de que aquilo que é visto é idêntico à verdadeira fonte.
Um rouxinol gorjeia num ramo,
O som brilha nos salgueiros ondulantes.
Ali está o
boi, onde poderia esconder-se?
Essa esplêndida cabeça, esses cornos majestosos,
Que artista poderia retratá-lo?



4. Agarrando o boi

Hoje ele encontrou o boi, que tinha estado longamente concorveando nos campos agressores e realmente o agarrou. Por tanto tempo ele demonstrou nestes arredores que não era fácil fazê-lo romper com os velhos hábitos. Continua com os velhos hábitos. Continua a ansiar por pastagens cheirosas, é ainda obstinado e indomável. Se o homem quiser domá-lo inteiramente, tem de usar seu chicote.
Ele precisa agarrar o laço com firmeza e não deixá-lo escapar
Porque o boi tem ainda tendências doentias.
Ora se precipita para as montanhas,
Ora vagueia numa garganta nevoenta.




5. Domando o boi

Ao surgir um pensamento, outro e mais outro nasceram. A iluminação traz a compreensão de que esses pensamentos não sã irreais, já que brotam de nossa verdadeira natureza. É somente porque a ilusão ainda permanece que eles são considerados irreais. Esse estado de ilusão não tem origem no mundo objetivo, mas em nossas próprias mentes.
Ele deve segurar com firmeza o cabresto e não permitir ao boi vaguear
Para que não se extravie por lugares lamacentos.
Devidamente cuidado, torna-se limpo e gentil.
Solto, segue de bom grado a seu dono.




6. Montando no boi e trazendo-o de volta à casa

Cessou a luta, ganho ou perda não mais o afetam. Ele cantarola melodias rústicas dos lenhadores e toca os cantos simples das crianças da aldeia. Montando no boi, contempla serenamente as nuvens no alto. Não volta a cabeça na direção das tentações. Embora alguém possa tentar perturbá-lo, permanece impassível.
Cavalgando livre como o ar, ele volta animadamente para casa
Através da bruma a tarde, de capa e amplo chapéu de palha.
Aonde quer que vá, produz uma brisa fresca
Enquanto uma profunda tranqüilidade domina em seu coração.
Esse boi não precisa nem de uma folha de relva.




7. O boi foi esquecido, ele está só

No Dharma não há dualidade. O boi é a natureza primária; ele o reconheceu agora. Uma armadilha não é mas necessária quando se apanhou um coelho, uma rede torna-se inútil quando se pegou um peixe. Como o ouro separado da escória, como a lua que atravessa as nuvens, um raio de luz brilha eternamente.
Somente no boi poderia chegar à casa
Mas eis que agora o boi desapareceu
E o homem se senta, sozinho e tranquilo.
O rubro sol anda alto no céu
Enquanto ele sonha placidamente.
Ao longe, sob o telhado de palma
Jazem seu chicote inútil e seu laço inútil.




8. Esquecido do boi e de si mesmo

Todos os sentimentos ilusórios pereceram e as idéias de sanidade também se extinguiram. Ele não permanece no estado de "Eu sou um buddha" e supera rapidamente o estágio de "Agora me purifiquei do orgulhoso sentimento de que não sou buddha". Mesmo os mil olhos dos quinhentos buddhas e ancestrais não podem discernir nele uma qualidade específica. Se centenas de pássaros fossem agora juncar de flores o seu quarto, ele não poderia envergonhar-se de si mesmo.
O chicote, o laço, o boi e o homem pertencem igualmente ao vazio.
Tão vasto e infinito é o céu azul
Que não pode atingi-lo.
Conceito de nenhuma espécie.
Sobre um fogo ardente, um floco de neve não pode subsistir.
Quando a mente atinge esse estado,
Chega finalmente a compreensão
Do espírito dos antigos ancestrais.




9. Voltando à fonte

Desde o puro princípio não houve tanto quanto um grão de poeira para macular a pureza intrínseca. Ele observa o crescer e o descrever da vida no mundo, enquanto permanece imparcial num estado de imperturbável serenidade. Esse crescer e decrescer não é fantasma ou ilusão, porém uma manifestação da fonte. Por que então há necessidade de lugar por alguma coisa? As águas são azuis, as montanhas verdes. Só consigo mesmo ele observa a mudança incessante das coisas.
Ele voltou à origem, retornou à fonte,
Mas foi em vão que tomou suas providências.
É com se estivesse agora cego e surdo.
Sentado em sua cabana, não almeja as coisas que estão fora.
Os riachos serpenteiam por si mesmos,
As flores vermelhas desabrocham naturalmente vermelhas.





10. Entrando na praça do mercado com mãos serviçais

O portão de sua casinha está fechado e mesmo os mais sábios não podem encontrá-lo. Seu panorama mental desapareceu por fim. Segue seu próprio caminho, não tentando seguir os passos dos antigos sábios. Carregando uma cabaça, passeia pelo mercado; apoiado em seu bordão, volta para casa. Ele guia os estalajadeiros e os peixeiros no Caminho do Buddha.
Com o peito descoberto e descalço, ele entra na praça do mercado.
Enlameado e empoeirado, como sorri mostrando os dentes!
Sem recorrer a místicos poderes,
faz árvores secas florescerem de repente.
(Shien, Kakuan. As dez figuras do apascentar do boi com comentário e versos.
In: Kapleau, Philip.
Os Três Pilares do Zen. Coleção Corpo e Alma.

Hannya Shingyô O Sutra do Coração


Kanjizai Bosatsu Gyo Jin Hannya Haramita Ji

Sho Ken Go Un Kai Ku Do Issai Ku Yaku Sharishi

Shiki Fu I Ku

Ku Fu I Shiki

Shiki Soku Ze Ku

Ku Soku Ze Shiki

Ju So Gyo Shiki Yaku Bu Nyo Ze

Sharishi Ze Sho Ho Ku So Fu Sho Fu Metsu

Fu Ku Fu Jo Fu Zo Fu Gen Ze Ko Ku Chu

Mu Shiki Mu Ju So Gyo Shiki

Mu Gen Ni Bi Zets' Shin I

Mu Shiki Sho Ko Mi Soku Ho

Mu Gen Kai Nai Shi Mu I Shiki Kai Mu Mu Myo

Yaku Mu Mu Myo Jin Nai Shi Mu Ro Shi

Yaku Mu Ro Shi Jin Mu Ku Shu Metsu Do

Mu Chi Yaku Mu Toku I Mu Sho Tokko

Bodaisatta E Hannya Haramita

Ko Shin Mu Ke Ge

Mu Ke Ge Ko Mu U Ku Fu

On Ri Issai Tendo Mu So Ku Gyo Nehan

San Ze Sho Butsu E Hannya Haramita

Ko Toku A Noku Ta Ra Sanmyaku Sambodai

Ko Chi Hannya Haramita Ze Dai Jin Shu

Ze Dai Myo Shu

Ze Mu Jo Shu

Ze Mu To Do Shu

No Jo Issai Ku Shin Jitsu Fu Ko

Ko Setsu Hannya Haramita Shu

Soku Setsu Shu Watsu

Gyate Gyate Hara Gyate

Hara So Gyate Boji Sowa Ka

Hannya Shin Gyo

Tradução:
Quando o bodhisattva Avalokiteshvara praticava profundamente a perfeição da sabedoria, viu claramente que os cinco agregados [forma, sensações, percepções, vontade, consciência] são vazios. Assim libertou-se de todas as tristezas e sofrimentos.
Ó Shariputra, a forma não é diferente do vazio, o vazio não é diferente da forma. A forma é somente o vazio, o vazio é somente a forma. As sensações, percepções, vontade e consciência também são assim.
Ó Shariputra, todos os fenômenos são vazios. Não aparecem nem desaparecem, não são impuros nem puros, não crescem nem diminuem. Portanto, no vazio não há forma, sentimento, percepção, vontade, consciência; não há olho, ouvido, nariz, língua, corpo, mente; não há cor, som, odor, sabor, tato, fenômeno; não há [reino dos sentidos, desde] o reino da visão até o reino da mente; não há [elos da existência dependente, desde] a ignorância e o fim da ignorância até a velhice-e-morte e a fim da velhice-e-morte; não há [as verdades sobres sobre] o sofrimento, a origem, a cessação, o caminho; não há sabedoria, nem ganho, nenhum ganho.
Sem o que ganhar, o Bodhisattva permanece na perfeição da sabedoria e não tem obstáculos em sua mente. Sem obstáculos e, portanto, sem medo, ele fica bem distante das delusões; isto é o nirvana. Todos os Buddhas dos três tempos, através da perfeição da sabedoria, alcançam a a iluminação insuperável, completa e perfeita.
Portanto, saiba que a palavra da perfeição da sabedoria é uma palavra de grande divindade, uma palavra de grande sabedoria, uma palavra insuperável, uma palavra inigualável, capaz de eliminar todo sofrimento; isto é verdade, não é mentira. Então, proclame a palavra da perfeição da sabedoria, a palavra que diz:
Gate Gate Paragate Parasamgate Bodhi Svaha
Este é o Sutra do Coração da Sabedoria.