22 de setembro de 2011

O Monge e o Macaco






Excelente curta de animação criado por dois alunos da instituição, Brendan Carroll e Fancesco Giroldini. 

O monge e o macaco conta a história do jovem e determinado Ragu que é enviado por seu mestre para cumprir uma última tarefa antes de se tornar um monge. No entanto, o que parecia relativamente simples e fácil se converte em um verdadeiro desafio.

Dar e Receber


Um professor de Zen, após anos como orientador de um aluno particularmente sensível e sábio, resolveu lhe dar um presente:


"Estou ficando velho, em breve morrerei. Para simbolizar sua sucessão a mim como mestre vou lhe dar este livro valiosíssimo."

O discípulo, entretanto, não estava interessado em livros:

"Não é necessário, obrigado, mestre. Eu aceitei o seu ensinamento como o Zen que prescinde a palavra escrita. Gosto de sua face original. Fique com seu precioso livro."

O professor insistiu, e afirmou, orgulhoso:

"Este livro atravessou sete gerações, é uma relíquia! Por favor, fique com ele como um símbolo de sua aceitação do manto e da tigela!"

O outro apenas disse:

"Está bem, dê-me o livro."

Ao recebê-lo, o discípulo simplesmente atirou o livro no fogo próximo, queimando-o. O professor ficou chocado. Gritou para o aluno, indignado:

"Como pôde fazer isso?! Era uma peça inestimável de conhecimento!"

Foi a vez do sábio discípulo ficar indignado:

"Como podes dar mais valor a papel e couro do que àquilo que me ensinastes diretamente, de forma pura?
Ensinar uma sabedoria que não se pode praticar é como agir sem coração, e não ser nada mais do que um repetidor de textos sagrados. Tu me deste um objeto, e eu usufrui dele como considerei adequado. Como podes ficar indignado com um simples 'dar e receber'?"

Koan: O que é "possuir"?

14 de setembro de 2011

O mestre Zen e o terremoto

Enso - Caligrafia de Kanjuro Shibata XX, ca. 2000

Aconteceu que um mestre Zen foi chamado como convidado. Alguns amigos haviam se reunido e estavam comendo e conversando quando, de repente, houve um terremoto. O prédio em que eles estavam era um prédio de sete andares, e eles estavam no sétimo andar, então a vida estava em perigo.

Todo mundo tentou escapar. O anfitrião, correndo, olhou para ver o que tinha acontecido com o mestre. Ele estava ali sem sequer uma ruga de preocupação no rosto. Com os olhos fechados, ele estava sentado em sua cadeira da mesma maneira que estava sentado antes.

O anfitrião sentiu-se um pouco culpado, sentiu-se um pouco covarde; não fica bem que o hóspede fique sentado e o anfitrião fuja. Os outros, os outros vinte hóspedes, já tinham descido as escadas, mas ele parou, embora estivesse tremendo de medo, e se sentou ao lado do mestre.

O terremoto chegou e passou, o mestre abriu os olhos e retomou a palestra que, por causa do terremoto, havia interrompido. Ele continuou novamente, exatamente na mesma frase - como se o terremoto não tivesse acontecido.

O anfitrião estava agora sem vontade de ouvir, não estava com disposição de entender porque todo o seu ser estava muito perturbado e ele estava com muito medo. Mesmo que o terremoto já tivesse ido embora, o medo ainda estava lá.

Ele disse: "Agora não diga nada, porque não serei capaz de compreender, não sou mais o mesmo. O terremoto me perturbou muito. Mas há uma pergunta que eu gostaria de fazer. Todos os outros hóspedes haviam escapado, eu também estava na escada, já quase correndo, quando de repente me lembrei de você. Vendo você aqui sentado com os olhos fechados, sentado tão tranquilo, tão imperturbável, me senti um pouco covarde - sou o anfitrião, eu não deveria correr. Então voltei e estou aqui sentado ao seu lado. Gostaria de fazer uma pergunta. Nós todos tentamos fugir. O que aconteceu a você? O que você me diz sobre o terremoto?"

O mestre disse: "Eu também fugi, mas você fugiu para fora, eu fugi para dentro. Sua fuga é inútil porque para onde quer que você esteja indo lá também há um terremoto, então é sem sentido, não faz sentido. Você pode alcançar o sexto andar ou quinto ou o quarto, mas lá também há um terremoto. Eu fugi para um ponto dentro de mim onde nenhum terremoto jamais chega, não pode chegar. Entrei em meu centro.

No Zen eles têm um ditado que diz que um mestre Zen que tenha alcançado o seu centro interior pode passar por um riacho, mas a água nunca toca seus pés . Isso é belo. Não quer dizer que a água nunca toca seus pés - a água vai tocá-los -, refere-se a algo sobre o mundo interior, o profundo interior. Nada o toca, tudo permanece fora, na periferia, e o centro permanece intocado, puro, inocente, virgem. 

Fonte: Osho, em "Living Tao"

10 de setembro de 2011

Nada existe

Yamaoka Tesshū - Domínio Público
Yamaoka Tesshū, quando era um jovem estudante Zen, visitou um mestre após outro. Ele então foi até Dokuon de Shokoku. Desejando mostrar o quanto já sabia, ele disse, vaidoso:

"A mente, Buddha, e os seres sencientes, além de tudo, não existem. A verdadeira natureza dos fenômenos é vazia. Não há realização, nenhuma delusão, nenhum sábio, nenhuma mediocridade. Não há o Dar e tampouco nada a receber!"

Dokuon, que estava fumando pacientemente, nada disse. Subitamente ele acertou Yamaoka na cabeça com seu longo cachimbo de bambu. Isto fez o jovem ficar muito irritado, gritando xingamentos.

"Se nada existe," perguntou, calmo, Dokuon, "de onde veio toda esta sua raiva?"

Koan: "Nada Existe"

7 de setembro de 2011

Serena Morada

Imagem: Andy Enero/Flickr (https://www.flickr.com/photos/andyenero) - Daily meditation walk of the Buddhist nuns in Tu Hieu Pagoda

.
serena é a morada
daquele que
silenciosamente
senta
espera
sem nada esperar
apenas é

.
serena é a morada
daquele que não deseja:
ser melhor, superior, independente, separado,
dentre todos,
o mais reverenciado
deseja, sem desejar nada
ser um com todos os seres

.
serena é a morada
daquele
que deixa o rio
seguir seu rumo
seja ele qual for:
bom ou ruim
correto ou incorreto

.
sem obstruir nada
sem represar nenhuma gota d´água
a vida serenamente se encarrega de pôr
tudo em seu lugar
de fluir e refluir

.
deixa tudo sempre livre
deixa tudo
abandona tudo
sem abandonar nada

.
serena é a energia
que permeia tudo que há e que não há
pura,
sem peso,
sem forma,
sem julgamento
sem desejo sem punição

.
serena é a morada
de quem é

Fonte e Autor desconhecidos.

3 de setembro de 2011

Tanzan e Ekido


Tanzan e Ekido certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma pesada chuva ainda caía,
dificultando a caminhada. Chegando a uma curva, eles encontraram uma bela garota vestida com um
quimono de seda e cinta, incapaz de cruzar a intercessão.
"Venha, menina," disse Tanzan de imediato. Erguendo-a em seus braços, ele a carregou atravessando o
lamaçal.
Ekido não falou nada até aquela noite quando eles atingiram o alojamento do Templo. Então ele não mais
se conteve e disse:
"Nós monges não nos aproximamos de mulheres," ele disse a Tanzan, "especialmente as jovens e belas.
Isto é perigoso. Por que fez aquilo?"
"Eu deixei a garota lá," disse Tanzan. "Você ainda a está carregando?"

2 de setembro de 2011

Uma tigela, o vazio


Eis aqui uma anedota famosa concernente ao mestre rinzai Ikkyu, que viveu, aproximadamente, há 03 ou 04 séculos.
Ikkyu era, então, um monge muito jovem que vivia num templo zen, onde vivia também seu irmão. Um belo dia, esse último deixou cair no chão uma tigela da cerimônia do chá, que se quebrou; a tigela era ainda ais preciosa porque fora presente do imperador. O chefe do templo admoestou-o severamente, fazendo chorar o mongezinho.
Ikkyu, todavia, recomendou-lhe que não se preocupasse:

- Tenho sabedoria. Posso encontrar uma solução.

Juntou os pedaços da cerâmica, colocou-os na manga do seu kolomo e foi descansar no jardim do templo, enquanto esperava, pachorrento, o regresso do mestre. Tanto que o avistou, foi ao seu encontro e propôs-lhe um mondo:

- Mestre, os homens nascidos neste mundo morrem ou não morrem?

- Morrem, decerto – respondeu o mestre. – O próprio Buda morreu.

- Compreendo – volveu Ikkyu – , mas no que respeita às outras existências, os minerais ou objetos também estão destinados a morrer?

- É claro! – reponde o mestre – Todas as coisas que têm forma devem morrer necessariamente, quando surge o momento.

- Compreendo – disse Ikkyu. – Em suma, como tudo é perecível, não deveríamos precisar chorar nem lastimar o que já não existe, nem sequer zangar-nos com o destino.

- Está visto que não! Aonde queres chegar? – inquiriu o mestre.

Ikkyu tirou da manga do kolomo os destroços da tigela, que apresentou ao mestre. Este ficou boquiaberto.